Nesse segundo e último post sobre o Cine Esquema Novo 2008, vou me deter nos longas-metragens, que pela primeira vez estavam em competição, dividindo as categorias com os curtas, com exceção óbvia para “Melhor Longa-Metragem”. Os seis filmes em competição apresentavam um conjunto muito mais forte que os curtas-metragens – mesmo Sábado à Noite e Redemoinho-Poema, que não ficaram entre meus preferidos, são longas-metragens com propostas bem interessantes. Mas vamos aos quatro filmes que mais me marcaram:
Anabazys (Paloma Rocha e Joel Pizzini, 2007)
Documentário-ensaio sobre as filmagens de Idade na Terra, com um impressionante trabalho de montagem que reaproveita, reinterpreta e amplifica o filme de Glauber Rocha.
Meu Nome é Dindi (Bruno Safadi, 2008 )
Para além da atualização das referências do cinema marginal (ou seja, da referênca às referências), Meu Nome é Dindi constrói um universo bastante particular, uma Rio de Janeiro mítica entre a iconografia nostálgica e a paranóia. É provavelmente um dos filmes brasileiros mais irregulares dos últimos anos, mas antes uma estréia imperfeita e pulsante do que muito filme burocrático que se vê por aí. Nesse liquidificador tropical há Bressane, Atom Egoyan – e, principalmente, há Djin Sganzerla.
O Fim da Picada (Christian Saghaard, 2008 )
Outro filho do cinema marginal, dessa vez apontando as lentes para a São Paulo atual, trazendo o passado e o mito para tentar entender a loucura da metrópole. Claro que para isso Saghaard apela para os tipos e os clichês, o que na maior parte do tempo não é nenhum problema graças ao registro do filme e à montagem inventiva, que cruza as várias histórias e multiplicam seus sentidos. Às vezes assustador, às vezes engraçado, mistura de grito de impotência e brincadeira de moleque, O Fim da Picada é daqueles filmes que ficam por muito tempo reverberando na cabeça. Ganhou merecidamente o prêmio de Melhor Longa-Metragem. Como foi colocado na nossa justificativa, “um filme de Saci”!
Pan-Cinema Permanente, (de Carlos Nader, 2008 )
Aproveitando o privilégio de possuir um longo material pessoal de Wally Salomão, Carlos Nader fez um ótimo documentário à luz e semelhança de seu objeto: excessivo, engraçado e principalmente vivo. Mesmo que depois da metade o filme se torne repetitivo, ele nunca perde a coerência, pois Wally não era exatamente um primor de discrição e concisão. Se bem que Nader foi discreto, resolvendo problemas de formato de forma simples e eficiente – o material em vídeo não tem muita qualidade?, então não são os pixels que irão estourar na tela grande, mas a TV que vai se mostrar telinha na sala escura. Vou parar por aqui, porque estou vendo que o espírito de Wally já me contamina…
Assino embaixo o textinho sobre O Fim da Picada e a justificativa do juri.
O Fim da Picada é um filmão!